30/11/2023
Nayara Rosolen – Jornalista
Quando ao encontro dos astros, o professor Germano Bruno Afonso deixou não só um legado astronômico, mas também saudade e um aprendizado imensurável durante a atuação da Uninter e em toda a rede de ensino municipal de Curitiba (PR). Em jus à contribuição do profissional para a educação, a Escola Municipal Ulysses Silveira Guimarães, no bairro Abranches, o homenageou com a nomeação da Sala de Divulgação Científica Germano Bruno Afonso.
Na inauguração do espaço, marcaram presença o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação e Novas Tecnologias da Uninter, Luciano Frontino de Medeiros, o professor de Física Daniel Guimarães Tedesco, a professora de Pedagogia e diretora do Departamento de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba, Simone Zampier da Silva, e o vereador Leonidas Dias.
“É uma satisfação para a gente. O professor Germano sempre foi um pesquisador na área do ensino da astronomia, e no nosso programa criou uma sala de tecnologias para poder proporcionar esse ensino dentro das escolas. Com a ideia que ele tinha, depois de ter criado o observatório em realidade virtual, utilizava nas escolas levando óculos 3D para os alunos. Foi muito proveitoso enquanto ele esteve conosco. Essa é mais uma ação que visa proporcionar a retomada desses projetos. Com certeza, onde estiver, o professor Germano está participando conosco”, garante Luciano.
Diretora da escola e ex-aluna de Germano, Erica Yoshizawa declara que a ação pretende não apenas estudar, mas divulgar a ciência a partir dos trabalhos realizados pelos estudantes, com mostras internas, além de manter oficinas das Práticas de Ciência e Tecnologia. Algo que a docente afirma sentir falta, assim como as crianças.
“O professor Germano é o responsável pela minha vontade de estudar ciência. Se você passar pela rede municipal, muitos falam a mesma coisa. Ele divulgava a ciência como ninguém. É isso que nós queremos. Queremos aprender, ainda que seja em outras áreas. Queremos conseguir transmitir a paixão que ele transmitia. Por isso resolvemos fazer essa sala”, salienta Erica, que fez uma pós-graduação em Astronomia por causa do professor.
Como um dos fundadores e primeiro presidente da Fundação Wilson Picler, o professor Germano desenvolveu projetos de astronomia, como o de Segurança Planetária e o Observatório Solar Indígena, que agora serão liderados pelo professor Daniel. Para o profissional, “a responsabilidade é grande, mas um desafio muito bacana”, já que são iniciativas que impactam a vida das crianças de forma significativa.
“Muito relevante internacionalmente, a comunidade astronômica conhecia o professor Germano e o tinha como referência tanto de astronomia formal, que era da Mecânica Celeste, mas também com grande expoente na parte de etnoastronomia. Além de ser um grande cientista, é uma grande pessoa. Todo mundo que conversamos diz ‘o professor Germano faz falta porque ele era humano’”, afirma o professor.
Ainda neste mês, os professores Luciano e Daniel também estiveram presentes na entrega de medalhas da Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA) e Mostra Brasileira de Foguetes (MOBFOG), organizadas pela Secretaria Municipal de Educação de Curitiba. De acordo com a diretora Erica, muitas escolas curitibanas hoje participam dos eventos por incentivo do professor Germano.
Além da sala, Germano foi homenageado com um quadro. A filha de Erica, Thais, foi quem pintou a tela, reproduzindo uma foto do professor com o céu, também apresentada no evento.
Mostra de Astronomia Indígena
Durante a abertura de inauguração, as crianças realizaram apresentações musicais e de declamação para os convidados. Além disso, o espaço recebeu a primeira Mostra de Astronomia Indígena, com a exposição de trabalhos desenvolvidos pelos estudantes do terceiro, quarto e quinto anos.
“Não vamos fazer como ele, não somos ele, mas podemos conseguir valorizar o que ele deixou, não deixar isso ser esquecido. Acho que esse é o nosso maior papel depois de tudo o que ele nos ensinou”, diz Erica.
Para o professor Daniel, o que mais “salta aos olhos” em momentos como esse é o conhecimento astronômico ser passado de uma perspectiva diferente do que geralmente é feito em sala de aula tradicional. Representa o trabalho de vanguarda realizado pelo professor Germano e toda a pesquisa de etnoastronomia não pensada pelo homem branco eurocêntrico, mas pelos povos originários.
“O legal de ver essa galerinha pensando em astronomia fora do ambiente formal de aprendizagem é que aqui se torna maior. Traz para a localidade deles e pensam muito nos povos indígenas com a cultura do Paraná mesmo. É bem legal ver eles produzindo algo que já foi feito e nem têm dimensão do tamanho do que estão fazendo”, explica Daniel.
Milena e Maria Clara, ambas de 9 anos, ajudaram na construção de um calendário indígena e contam que gostaram de realizar o trabalho colaborativo, que foi “trabalhoso e divertido ao mesmo tempo”. As estudantes do quarto ano têm admiração pelo céu, estrelas e constelações. Ambas se prepararam para apresentar para os convidados e Milena acredita que o criador de tudo isso “deve ser bem esperto”.
“Acho que o professor Germano estaria muito orgulhoso de ver o nosso trabalho e todo o carinho que temos por ele, de homenagear com a sala e esse nome tão importante”, diz Maria Clara.
O professor Luciano diz que o ensino de astronomia “é muito motivador” com as crianças. “É algo muito importante para que a gente possa sensibilizar nas crianças a importância da ciência. O quanto que a ciência pode proporcionar de coisas boas para a humanidade e também para incentivar elas nesse caminho para que no futuro venham a se tornar cientistas e, com isso, a gente consiga fazer com que a ciência de uma forma geral seja amplamente divulgada e incentivada no Brasil”, conclui.
Edição: Arthur Salles – Assistente de Comunicação Acadêmica
Créditos do fotógrafo: Nayara Rosolen – Jornalista